A história da tecnologia é marcada por mulheres muito importantes. Os primeiros algoritmos de computador, a conexão wireless e o primeiro compilador para linguagens de programação, por exemplo, foram algumas invenções femininas que revolucionaram e deram espaço para outras inovações. Mas o curioso é que o cenário atual é completamente oposto: as mulheres programadoras são minoria e, embora o mercado se diga receptivo, ainda há uma participação tímida delas em salas de aula e empresas.
Enquanto o empreendedorismo feminino cresce, assim como a participação de mulheres em diversos segmentos, a tecnologia é uma área que ainda apresenta grande disparidade, quando comparamos a participação feminina e masculina. Na área de programação, a presença deles se destaca em maior número nos cursos superiores e nas empresas. Essa ideia não é coisa que notamos no dia a dia, mas sim algo confirmado por diversas pesquisas.
O último Censo do IBGE, divulgado em 2010, mostrou que apenas 22% dos alunos eram mulheres nas turmas de ciência da computação.
No mercado, elas são minoria também e representam apenas 17% do total de programadores, de acordo com dados apresentados no evento “Por um Planeta 50-50: Mulheres e meninas na ciência e tecnologia”, realizado pela Serasa Experian em parceria com a ONU Mulheres.
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Mas o curioso é que as mulheres programadoras foram a maioria nesse mercado um dia. Assim como falamos acima, elas criaram linguagens inovadoras e tecnologias de destaque. No Brasil, nos anos 1970, a primeira turma de Ciências da
Computação do Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP era formada por 70% de mulheres. Em um cenário mais recente, a universidade apontou que em 2016 apenas 15% dos alunos eram do gênero.
A tendência se repetiu no mercado. Em 1984, as mulheres ocupavam cerca de 37% dos cargos em ciências da computação. Já em 2011, os dígitos não passavam de 12%. A consequência é agravante pois mostra que elas ficam de fora de uma das carreiras mais valorizadas do momento, que se desenvolve a cada dia, oferece melhores salários e maior perspectiva de ascensão de cargo.
Só que o problema não é apenas a baixa participação. Alguns estudos chegaram a mostrar que também existe pouca valorização. Uma pesquisa feita pelo GitHub, uma plataforma de hospedagem de código-fonte, apontou que os códigos escritos por mulheres só são melhor aceitos quando a autora não é divulgada. Os números ficam assim: 78,6% de aceitação para elas e 74,6% para eles.
Já a Women In Tech mostrou que as mulheres ficam mais estagnadas no nível básico da profissão que os homens. 46,1% das mulheres da indústria estão no nível iniciante, enquanto apenas 25,9% dos homens sofrem com esse problema. Quando os profissionais são mais jovens, a desigualdade ainda existe, mas é menor. 84,5% das mulheres entre 18 e 24 anos ocupam cargos iniciais, enquanto que para os homens a porcentagem é de 77,3%, o que mostra uma tendência de que as mulheres continuem a ocupar cargos júnior.
Por que o mercado para mulheres programadoras é pouco inclusivo?
Depois dessa enxurrada de dados, deu para perceber que a situação está longe de ser ideal, não é? Mas ela é reflexo de um problema que é bem mais complexo. Listamos alguns motivos abaixo:
Cultura de que mulheres não se dão bem com exatas
Aquela ideia de que as mulheres não se dão bem com exatas criou um efeito dominó gigantesco. Desde a infância, os meninos são mais estimulados a desenvolver o raciocínio lógico. Na escola, também é comum ouvir que eles se dão melhor em matérias como matemática e física. Tudo isso gera uma percepção de que os homens devem seguir nas carreiras que envolvem números e códigos, enquanto as meninas devem seguir em profissões de humanas.
Um exemplo clássico que só vem mudando nos tempos de hoje é a engenharia civil, área que sempre foi masculinizada e que apenas agora tem visto a participação feminina crescer. Uma pesquisa encomendada pelo portal G1 indicou um crescimento ininterrupto da presença de mulheres na profissão de 2008 até 2015, e que a tendência é permanecer neste ritmo.
Agora, o desafio é a tecnologia. Mas o efeito dominó tem levado a um outro problema que é a falta de referências femininas no mercado.
Poucos modelos de inspiração
Como falamos, as mulheres programadoras existem, mas estão em baixo número e, muitas vezes, não são valorizadas. Por isso, durante muito tempo faltaram modelos femininos de destaque que inspirassem muitas mulheres a seguir na área. Alguns profissionais da tecnologia falam que existem poucas iniciativas que levem conhecimento às mulheres de que a área é receptiva e que esse tipo de trabalho não é masculino. Mas aos poucos, felizmente, essa questão tem mudado, como você verá mais abaixo no post.
Os modelos masculinos foram positivos?
Aqui fica uma reflexão: a inversão de gêneros na tecnologia aconteceu aproximadamente nos anos 1980, na época em que os computadores pessoais se popularizaram e grandes líderes como Steve Jobs e Bill Gates despontaram. A partir de então, o nome de mulheres programadoras começou a ficar cada vez mais raro no hall da fama do mundo da tecnologia.
Essa coincidência nos leva a um questionamento. Será que essa inversão de papéis tem alguma ligação com o fato de que nessa época as principais inovações eram atribuídas aos homens? Se for, quais são os modelos delas?
A história da tecnologia foi escrita por mulheres programadoras e notáveis
Inicialmente, muitas meninas que entram na área costumam achar que a linha do tempo da tecnologia é contada do ponto de vista dos homens que contribuíram. Apesar de a história recente da tecnologia envolver mais líderes masculinos, a trajetória da computação tem diversos pontos marcantes em que as mulheres foram protagonistas.
Recentemente, entrou na lista de indicados ao Óscar o filme “Estrelas Além do Tempo”, que coloca em primeiro plano três mulheres negras que trabalharam como “computadores humanos” na NASA. A tarefa delas era resolver equações complexas, necessárias para o sucesso de projetos astronômicos. A história revelou engenheiras e matemáticas brilhantes, que foram peça-chave para a ida do primeiro americano ao espaço.
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Além disso, vale lembrar que os primeiros programadores da história, na verdade, eram figuras femininas. Reunimos aqui algumas mulheres notáveis que abriram espaço para inovações importantíssimas:
Ada Byron (Lady Lovelace)
Ada Byron foi a programadora pioneira da história. Foi responsável por ter escrito o primeiro algoritmo a ser processado por uma máquina no século XIX.
O aparelho computava valores de funções matemáticas. Naquela época, ela também já era capaz de enxergar que a capacidade dos computadores poderia ir além dos cálculos matemáticos e processamento de números.
Hedy Lamarr
Hedy Lamarr era uma atriz com grande aptidão para a tecnologia. Além de ficar conhecida por participar de filmes americanos, ela foi conceituada por ter sido uma brilhante inventora. É atribuída a ela a criação de um sofisticado aparelho de interferência em rádio para despistar radares nazistas, que foi patenteado em seu nome.
49% da patente da tecnologia foi adquirida, mais tarde, pela Ottawa Wireless Technology, empresa que criou conexões como o Wi-Fi e CDMA.
Grace Murray Hopper
Grace Murray Hopper foi uma importante figura na programação. Ela era analista de dados da marinha americana e criou a linguagem de programação Flow-Matic, que serviu de base para a criação do COBOL (Linguagem Comum Orientada para os Negócios).
E tem uma curiosidade também. É de autoria dela o termo “bug”, popular até hoje quando as pessoas se referem a falhas no código-fonte. Grace Murray Hopper teria tido um problema em seu computador que tentou resolver sozinha. Ela percebeu que havia um inseto morto no computador.
Edith Ranzini
No Brasil, Edith Ranzini foi uma das quatro mulheres que contribuíram com o projeto “Patinho Feio”, o primeiro computador desenvolvido no Brasil. O trabalho nasceu na Escola Politécnica da USP nos anos 1970. A professora também foi importante mais tarde na implantação do curso de engenharia elétrica com ênfase em computação na instituição.
O que pode ser feito para atingir a igualdade?
Se um dia as mulheres já tiveram maior protagonismo na tecnologia e na programação, é porque esse mundinho também pertence a elas e essa realidade pode ser modificada. Mas para atingir o status ideal de igualdade, é preciso que as empresas, os próprios funcionários e até a sociedade como um todo tomem algumas iniciativas. Listamos em tópicos algumas delas:
- Metas: Trabalhar com metas é a melhor forma de alcançar objetivos. Então, é interessante criar um propósito de compor pelo menos metade da equipe de mulheres programadoras.
- Estimular a participação: Para quebrar um paradigma, é necessário arregaçar as mangas desde cedo. Por isso, desde a infância devemos estimular o interesse por áreas relacionadas, se for o perfil da criança, para que ela considere a área da tecnologia com o mesmo peso das outras carreiras
- Iniciativas: Além do apoio dos colegas de profissão, é preciso que as próprias mulheres criem projetos e iniciativas que estimulem a presença feminina na programação. Felizmente, hoje em dia, vemos cada vez mais esforços gerando resultados impressionantes na inclusão de mulheres programadoras.
Iniciativas
Se por um lado parece que ainda existe pouca procura pela área na época escolar e universitária, as poucas mulheres depois de formadas mostram bastante engajamento. Hoje, não é raro encontrar projetos que estimulem a presença feminina na tecnologia.
São iniciativas que envolvem grupos de debate, workshops, cursos e competições de programação que somam bastante à experiência das novas mulheres programadoras. Eles são inspiradores, veja só:
- Laboratoria: Curso dura seis meses, é intensivo e presencial, com aulas de cinco horas de segunda a sexta. O projeto ensina linguagens como JavaScript, HTML, CSS, UX entre outras, e já foi reconhecido por desenvolvedores do Google, por Mark Zuckerberg e Barack Obama. Por mais que a iniciativa tenha nascido de uma mulher programadora latina, o projeto atua no Brasil, com sede na avenida Paulista.
- Pyladies: Com mulheres, ou melhor, ladies espalhadas por todo o país, o Pyladies é uma comunidade mundial que chegou ao Brasil para estimular as mulheres a entrar na tecnologia. O projeto ensina a linguagem Phyton para mulheres que ainda não conhecem a programação. As oficinas são feitas de forma lúdica e simples, para mostrar às meninas todas as inúmeras possibilidades dos códigos. Em parceria com a USP, o projeto levou também aulas para alunas do ensino médio.
- Infopreta: Mulheres negras e de outras minorias realizam manutenção de computadores, suporte técnico, back-up e formatação, higienização, desenvolvimento de sites e aplicativos, consultoria sobre tecnologia e inovação, entre outros serviços.
- Women Up Games: Você sabia que a maior parte do público de games é formado por mulheres? Pois é! O projeto promove a inclusão de mulheres no mundo dos games e oferece palestras, eventos corporativos, campeonatos femininos e eventos de desenvolvimento de games.
- Reprograma: Curso intensivo e gratuito, de 18 semanas em período integral, para mulheres que querem aprender programação front-end, como linguagem HTML, CCS e Javascript. Também oferece bibliotecas e pré-processadores como JQuery, Bootstrap e React, a mulheres que não estejam empregadas.
Se você é mulher e programadora, saiba que as portas da Layer Up estarão sempre abertas para você. Principalmente para as girls powers que carregam a inovação em seu DNA!
Women’s and Business Intelligence: Conheça o maior evento de Data Driven do Brasil e se destaque ainda mais no universo da programação!
Pense em toda sua carreira profissional e liste a quantidade de líderes que já teve. Depois disso, separe os homens das mulheres e repare se houve algum equilíbrio. Se os números penderam para o lado masculino, temos um recadinho para dar: esse cenário está mudando!
Isso mesmo, as mulheres estão cada vez mais presentes no comando das empresas e o número deve crescer ainda mais. Esta notícia é ótima, ainda mais para a gente aqui da Layer Up, uma agência que tem mulheres no comando: a Leticia Previatti como co-fundadora e líder de projetos e Samira Cardoso como CEO.
E a importância das mulheres não se limita apenas em movimentar a economia do país, por exemplo. Representatividade no mercado de trabalho pode ser levada para o lado de questões sociais, pois afeta um grupo muito grande de pessoas.
Ter mulheres como referência no mundo empresarial é importante para incentivar outras profissionais a buscarem o mesmo e, assim, aumentar ainda mais a quantidade do público feminino no comando das empresas.
É uma forma de mostrar que é possível ser mulher, mãe e empreendedora. É uma maneira de desconstruir preconceitos já enraizados na sociedade.
Comparado há alguns anos, o cenário é favorável, mas ainda existe muito o que melhorar para o mercado ficar o mais igualitário possível.
Para você ficar mais por dentro desse cenário, no próximo tópico vamos mostrar alguns dados que revelam um pouco do que ocorre com as mulheres durante a experiência no mercado de trabalho, mas já adiantamos que são números bem delicados.
Os desafios: entenda a situação atual com números
O estudo foi feito no Vale do Silício, local conhecido como a ilha do empreendedorismo. Vamos destacar apenas alguns pontos, mas se você quiser conhecer todas as informações da pesquisa do The Elephant in the Valley, acesse este link.
Vale ressaltar que a pesquisa foi feita com mais de 200 mulheres e focada naquelas com mais de 10 anos de experiência no mercado de trabalho.
- 47% das mulheres entrevistadas já foram solicitadas a fazer tarefas de nível inferior que os profissionais do sexo masculino não fazem, como anotações e pedidos de alimentos;
- 90% dessas mulheres presenciaram comportamentos sexistas nas empresas;
- 75% foram questionadas sobre estado civil, filhos e família;
- 60% das mulheres apontaram que se depararam com interações sexuais não desejadas;
- 39% dessas mulheres que sofreram com assédio não fizeram nada por achar que isso afetaria negativamente sua carreira;
- 88% diz já ter presenciado situações em que clientes direcionam perguntas que deveriam ser para elas a colegas homens;
Embora o cenário melhore a passos bem lentos, ainda é um desafio e esses números nos fazem notar que temos um longo caminho a percorrer. E no Brasil, como estamos?
No Brasil o cenário é diferente?
Para deixar você mais otimista, vamos começar pelos pontos positivos aqui no Brasil. Certo?
As mulheres empreendedoras vêm com muito força. Prova disso foi o estudo realizado pela Global Entrepreneurship Monitor 2017, que no Brasil é feito em parceria com o Sebrae.
Mais da metade dos negócios que surgiram em 2016 foram fundados por mulheres. Além disso, a pesquisa aponta que elas chegam nesse patamar com o nível escolar mais alto que o dos homens empreendedores.
Segundo Hilka Machado, professora da Universidade do Oeste de Santa Catarina, a taxa de empreendimentos iniciados no Brasil, desde 2007, varia entre 47% e 54% para homens e mulheres. Já no ano de 2016, as mulheres tiveram 51,5%, enquanto os homens ficaram com 48,5% dos empreendimentos iniciados.
Agora vamos falar sobre a parte chata da história, sobre um estudo feito em nove estados do Nordeste do país. A iniciativa contou com a colaboração de mais ou menos 200 publicitárias que responderam as perguntas anonimamente:
- 85,8% das mulheres já se depararam com casos de assédio que envolviam uma colega de trabalho;
- 80,6% das profissionais deixaram de usar determinadas roupas para não chamar atenção dos homens;
- 81,3% sentiram que já foram julgadas pela aparência;
- 77,4% das mulheres dizem que já ignoraram piadas machistas por medo de represália;
- 71% das profissionais já foram assediadas no trabalho;
- 55,% delas apontam que já se sentiram perseguidas por colegas no ambiente de trabalho.
Os dados são assustadores e, em alguns, a realidade é ainda pior quando comparada ao estudo feito no Vale do Silício. Se quiser saber mais sobre essa pesquisa, acesse o link e veja todas informações.
Agora vamos falar de mais coisas boas sobre mulheres empreendedoras, tudo de acordo com um estudo da revista Exame.
Depois de falar sobre mulheres que estão lutando para impor a representatividade feminina no mundo dos negócios, aposto que você ficou curioso para saber quem são essas profissionais. Veja alguns dados sobre elas:
- Existem 5,693 milhões de empreendedoras no Brasil – 8% da população feminina no país;
- Elas possuem uma renda média mensal de R$ 6.536;
- 79% tem ensino superior;
- A maior parte delas está concentrada no Sudeste do país (53%);
- 19,7% encontra-se no Sul do Brasil.
Se houvessem mais iniciativas focadas na igualdade de gênero e na inserção das mulheres no mundo empresarial, o PIB mundial iria aumentar em US$ 12 trilhões até 2020. Impressionante, não?
Só o Brasil teria um salto de R$ 850 milhões.
Contar com mais mulheres no comando de empresas, como podemos notar, não seria bom apenas para elas, também seria excelente para o Brasil e para a economia do mundo inteiro.
Para ficar mais claro ainda quais são os desafios das mulheres que estão em posição de liderança no mercado de trabalho, falamos com nossas líderes, Samira Cardoso e Leticia Previatti. Elas comentaram sobre como está o cenário no país e como lidam com tudo isso.
Empreendedorismo feminino na pele
Mesmo sabendo um pouco da realidade que as mulheres enfrentam no mundo empresarial, quando não sente na pele a situação fica um pouco difícil de imaginar como seria o cenário.
Justamente por esse motivo batemos um papo com a Leticia e com a Samira, ambas no comando da Layer Up.
Logo no início Leticia já diz como foi a experiência ao fundar a agência e afirma que, embora tenham se preparado bastante antes de dar o pontapé inicial no negócio, esse cenário desigual não foi uma dor no começo, mas foi sentido na prática, quando os desafios surgiram.
Já a Samira diz que “ser mulher é só uma parte do desafio que superamos buscando conhecimento, ampliando o repertório e trabalhando com seriedade”. Ela ainda acrescenta que ambas sabiam o que viria pela frente e finaliza: “Sempre nos preocupamos em cuidar dos nossos clientes e da nossa equipe da forma mais ética e profissional. Esse cuidado é parte inerente da nossa natureza feminina, por isso crescemos e continuamos a avançar”.
Como vimos nas informações dos estudos divulgados por aqui, as mulheres empreendedoras têm a difícil missão de lidar com assédio no ambiente de trabalho, seja sexual ou moral, que ocorre com mais frequência.
“A gente passa por algumas situações, mas sempre tentamos sair delas com conhecimento e tentamos surpreender com dados de mercado, com cases, etc. O desafio é grande, mas a gente se concentra em dar o nosso melhor, sendo homem ou mulher, e não deixamos que alguns comentários nos abata”, afirma Leticia.
Já Samira lida com as situações desagradáveis de outra forma. Se em alguma reunião com clientes, por exemplo, homens fazem comentários inapropriados relacionados às mulheres, ela diz que aprendeu a não rir.
“Antes, por constrangimento ou simpatia, eu ria, levava tudo na brincadeira. Hoje eu apenas olho seriamente, sem sorrir, sem consentir, sem ampliar. Eu devolvo sutilmente o constrangimento”.
Tendo ciência de todos esses dados, não seria muito absurdo que mulheres se recusassem a trabalhar com clientes por vários motivos, não acha?
Na agência digital Layer Up nunca ocorreu nada tão extremo para chegar a esse ponto, mas já houve recusa de prestação de serviço quando o cliente exigiu uma emissão de nota fiscal em nome de outra empresa.
“Essa é a beleza de uma administração feita por mulheres. Somos cuidadosas com as pessoas e com os negócios. Temos a preocupação de inovar, mas sem nos expor em situações duvidosas. Eu admiro muito mulheres gestoras justamente pela perseverança, que aprendemos a ter ao longo da vida, e o cuidado com as pessoas e com o negócio”, conclui Samira.
Vale destacar que isso independe de gênero. Se o cliente não aceita muito bem a cultura da empresa e tem comportamentos inadequados, o negócio não vai para frente. “A gente precisa ser coerente com nossos valores e com a nossa cultura”, diz Leticia.
Embora os números mostrem uma realidade assustadora, temos alguns motivos para comemorar. Samira diz que nota evolução mesmo tendo um caminho muito longo para percorrer.
Para mostrar essa evolução, ela cita um episódio recente, que aconteceu na Copa do Mundo de 2018, quando brasileiros expuseram uma estrangeira de forma grosseira. O ocorrido tomou grande proporção e alguns dos envolvidos foram demitidos dos seus empregos.
“Isso há 5 anos passaria como uma brincadeira. É um processo lento, mas estamos avançando e a discussão sobre igualdade de gênero está cada vez mais forte”, diz Samira.
Claro que com uma boa experiência no mercado e cases de sucesso expressivos, fica mais fácil ter respeito dos clientes. Ela ainda destaca que faz parte da cultura da Layer Up multiplicar sucesso e por isso querem fomentar o empreendedorismo, principalmente quando falamos de mulheres empreendedoras.
Com a nova geração chegando em posições de liderança, a tendência é que este cenário melhore, certo? Nem sempre.
A Leticia, por exemplo, diz que já se surpreendeu tanto com pessoas mais jovens quanto com as mais experientes. Negativa e positivamente.
Já a Samira acredita que não há diferença, pois ela não nota desconstrução em todos os homens mais jovens e finaliza dizendo que tudo depende de qual grupo a pessoa se encontra no momento, pois ainda temos uma cultura machista independente da idade.
Mas como podemos desconstruir todas essas questões e fazer com que a representatividade feminina seja cada vez mais comum na liderança das empresas?
Samira é bem direta nesse ponto: “Fomentar a discussão, dar espaço para falar de outras mulheres empreendedoras, incentivar o empreendedorismo feminino e parar de rir de piadas machistas disfarçadas de brincadeirinha”.
Gostou de saber das experiências que elas já tiveram no universo corporativo e de todas questões abordadas na entrevista? Agora, veja algumas outras mulheres empreendedoras que se deram bem ao investir no negócio próprio.
As inspirações: conheça algumas empreendedoras de sucesso
Como já afirmamos, a representatividade feminina é um importante ingrediente para o mercado dos negócios. E em solo nacional já temos algumas mulheres que fazem esse papel como maestria. Veja a lista a seguir:
Paola Carosella – Arturito e La Guapa
Foto: Jason Lowe
Para começar com o pé direito, vamos destacar uma mulher que pode ostentar e dizer: eu tenho dois empregos.
Paola Carosella, a argentina que ficou ainda mais conhecida no Brasil depois de aceitar o convite para ser jurada do programa de culinária MasterChef Brasil, abriu seu primeiro restaurante em 2003, o Julia Cocina. Pouco depois abriu outros dois estabelecimentos, o mediterrâneo Arturito, em 2008, e o café de empanadas e doces latinos La Guapa, em 2014, que operam até hoje.
Sheryl Sandberg – Diretora de operações do Facebook
Foto: John Lee/Claudia
Sheryl ficou mais conhecida pela sua luta para diminuir a desigualdade de gênero no mercado de trabalho e, desde 2008, é a diretora de operações do Facebook.
Além disso, em seu livro, Faça Acontecer – mulheres, trabalho e a vontade de liderar, ela faz uma análise do crescimento da representatividade das mulheres dentro das organizações que, muitas vezes, não acontece. Para mudar este cenário, Sheryl Sandberg dá conselhos para as profissionais e mostra como elas podem mudar essa realidade.
Em 2012, a revista norte-americana Time a considerou como uma das 100 pessoas mais influentes no mundo.
Emília Chagas – Contentools
Foto: Blog Worthix
Que tal uma empresária que tem uma relação mais próxima com nosso segmento? Sim, tem algumas, mas vamos destacar a Emília Chagas, fundadora da Contentools em 2013, uma plataforma de gestão da produção de conteúdo. Vale destacar que na época da fundação o marketing de conteúdo ainda não tinha tanto espaço no Brasil.
Hoje o trabalho dela é um pouco diferente do início. Antes era feito apenas a mediação entre as empresas com desejo de produzir conteúdos e os profissionais do segmento. Agora, com o modelo totalmente reinventado, Emília Chagas é dona da primeira ferramenta de marketing de conteúdo da América Latina.
Linda Rottenberg – Endeavor
Foto: site entrepreneurship
Se você busca inspiração para iniciar sua jornada, Linda Rottenberg é uma mulher que inspira qualquer um.
Linda é co-fundadora da Endeavor, uma organização global sem fins lucrativos que tem como objetivo aumentar o poder de transformação dos empreendedores. Por que fazem isso? Porque acreditam que empresas de alto impacto são capazes de mudar o mundo.
A organização chegou ao Brasil em 2000 com atuação em 8 estados, entre eles Ceará, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.
O papel da Endeavor é orientar pequenos e médios empresários com potencial de crescimento a fim de alcançar bons resultados para, assim, ser referência no segmento e incentivar a inovação de outros empreendimentos.
Quer mais uma informação sobre a Linda Rottenberg? Ela está na lista das 100 mulheres inovadores do século 21, segundo a revista Time, e hoje é vista como uma das maiores especialistas no mundo empresarial.
A Endeavor atua em mercados emergentes e fala um pouco de sua história para poder inspirar outras pessoas.
A organização está presente em 30 países e hoje tem parceria com 1700 empreendedores selecionados entre 55 mil candidatos. As empresas geram mais de US$ 15 bilhões em receita anual e produzem mais de 1,5 milhão de empregos.
Ou seja, não há a menor possibilidade de criar uma lista de mulheres empreendedoras sem citar Linda Rottenberg entre os destaques.
Viviane Senna – Instituto Ayrton Senna
Foto: Danilo Verpa/Folhapress
Como você já deve imaginar, trata-se da irmã do ex-piloto de Fórmula 1 Ayrton Senna. Viviane, além de empreendedora, é psicóloga e coordena o projeto que tem como objetivo oferecer oportunidade de educação à crianças e jovens.
A organização foi fundada em 1994 e beneficia anualmente 1,5 milhão de jovens e crianças, forma mais de 65 mil professores e impacta 660 municípios em 17 Estados do Brasil.
Viviane comanda um projeto com grande potencial de transformar a sociedade.
E você, o que acha que devemos fazer para mudar esse cenário e termos mais mulheres no comando de grandes negócios? Comente aqui no blog 🙂